Cap. 264
O impacto com as árvores é inevitável, portanto, Augustus se vê impelido a dar um último aviso aos demais tripulantes: — Segurem firme.
“Mais firme?”, pensa e hiperventila Sarah, com as mãos já sangrando pelas farpas da madeira do bote no qual seus dedos permanecem cravados.
A moça decide abrir os olhos e, com algum esforço e algumas piscadas consegue identificar o motivo do aviso supostamente desnecessário.
Ela retesa ainda mais o corpo e espreme mais o corpo de Cobra Traiçoeira contra o assoalho enquanto aguarda a colisão.
A neve atinge as árvores primeiro e, logo em seguida, vem o bote.
De maneira surpreendente, o impacto é menor que o esperado. Ao invés de uma coluna de madeira maciça, a impressão é a de esbarrar em um feixe de bambus finos.
Em vez de despedaçar o barco, cada trombada, apesar dos trancos e chacoalhadas, serve para ir diminuindo a velocidade do grupo.
Demora ainda algumas dezenas de metros até que a embarcação pare de vez em um último esbarrão. Leva mais tempo ainda até Sarah e Augustus resolverem soltarem a beirada do barco.
— Estamos vivos! – comemora Sarah em meio a lágrimas de alívio.
— Sim, senhorita. – confirma o delegado, que, no entanto, acrescenta: — Mas ainda não estamos salvos nem seguros.
A moça olha para ele intrigada e também um pouco contrariada por ter sua alegria e alívio roubados.
Augustus explica: — Repare como as árvores em volta parecem pequenas. Lembre que aqui é uma floresta com árvores antigas e grandes.
— As árvores não encolheram, nós é que estamos sobre um monte de neve, o que fez com que batêssemos nos topos das árvores, que são bem mais finos e flexíveis que as bases dos troncos.
Sarah parece entender: — Por isso não estamos arrebentados.
Augustus: — Exatamente. Mas, perceba que parece que estamos em um lago, sinta o bote ondulando.
A moça confirma com a cabeça.
Augustus: — É a neve ainda se assentando. Melhor esperarmos mais um pouco antes de tentarmos sair daqui.
Sarah começa a inclinar a cabeça para concordar quando Cobra Traiçoeira geme e cospe uma golfada de sangue.
— Por outro lado, parece que não dispomos de muito tempo. – avalia Augustus.